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"Não posso ficar sem, porque me faz bem, me organiza, me acalma, me equilibra, me nutre, me limpa", diz a psicanalista Sylvia Loeb

“Não posso ficar sem, porque me faz bem, me organiza, me acalma, me equilibra, me nutre, me limpa”, diz a psicanalista Sylvia Loeb

“Não sabia do que se tratava, sabia apenas da dor que sentia em uma perna, sabia da dificuldade de andar, de acompanhar minhas netas nos passeios pelos parques, na impossibilidade de caminhar com meus amigos nos finais de semana, na limitação para me locomover pela casa, tendo que me apoiar nos móveis a cada três passos. E começou a romaria pelos médicos, pelas massagens de todos os tipos, pelos vários acupunturistas chineses, japoneses, indianos, pelos remédios naturais e, finalmente, o diagnóstico fatídico: além de muitos bicos de papagaio, um nervo ciático completamente inflamado por excesso de ginástica e jogging que fiz a vida toda. Uma operação provavelmente resolveria o meu caso, afirmou o cirurgião. Como?! Ginástica, cuidados com o coração, manter-me magra, tudo isso tinha contribuído para eu ficar quase paralítica? A velhice baixou em mim de um dia para outro.

Até então, sempre tinha sido uma pessoa ativa, com energia para viver a vida, alegria e curiosidade. A dor tira o ânimo, enfraquece a vontade, altera o humor, impede a fruição, tudo isso que chamamos desânimo ou depressão, palavra pesada para quem nunca sofreu disso. Uma perspectiva de limitação em um momento pleno de perspectivas profissionais, afetivas, amorosas.

Da emoção à lesão: sabia desse caminho em meu próprio corpo, mas até então tinha conseguido evitar o problema. Porém não somos cyborgs, por mais que trabalhemos o lado emocional, algumas coisas escapam e atingem o corpo, nosso fantástico para-choques.

O auge da frustração foi um final de semana com a família em uma fazenda maravilhosa no qual me vi obrigada a ficar no quarto, sem poder andar. A vida passava pela janela. Longas sessões de alongamento, isso eu sabia fazer bem, me aliviavam até a próxima cadeira.

Encontrei a ioga num momento de absoluta descrença. Só de me imaginar sentada horas respirando e tentando atingir o Nirvana, fazia com que eu sentisse todos os tendões repuxando meu corpo para lados diferentes.

Desisti de lutar contra ideia de que a prática poderia me ajudar, como tão insistentemente sugeria uma de minhas filhas. Iniciei com uma aula por semana e qual não foi minha surpresa quando comecei a sentir os efeitos. Um dos primeiros ‘milagres’ foi um comentário da professora sobre uma queixa minha: “Sinto dor, mas quando mudo a postura e fico com o quadril nesta posição, a dor passa”. Ao que ela respondeu, simplesmente: “Então mude a postura, coloque o quadril na posição que lhe dá conforto”. Tão óbvio que até dá vergonha de relatar!

Pensando neste pequeno acontecimento, cheguei a algumas conclusões: não temos consciência de nosso corpo, não temos consciência do que nos faz mal. A vida corrida cheia de compromissos, o tempo que passamos sentados ou fazendo exercícios mecanicamente, ligados na forma e na imagem, exercícios que não têm nada a ver com nossas necessidades fisiológicas e afetivas, desligados do que nos intoxica o corpo e o espírito, enfim, completamente alienados de nós mesmos. A isso chamamos viver a vida intensamente.

Essas conclusões foram sendo construídas aos poucos, na prática da ioga Ayengar, que alia força, respiração, equilíbrio e concentração, consciência do movimento e do próprio corpo, silêncio para propiciar a atenção. De uma vez por semana, passei a fazer aulas duas e depois três. A ioga tornou-se uma prática ligada à higiene mental e física. O equivalente a me alimentar ou dormir ou tomar banho: não posso ficar sem, porque me faz bem, me organiza, me acalma, me equilibra, me nutre, me limpa.

Continuo fazendo as coisas desabaladas como todas nós, mulheres contemporâneas: muito trabalho, menos sono do que o recomendado, álcool, gordura e açúcar, além dos preceitos politicamente saudáveis, mas com uma moderação que não fazia parte de minha gula pela vida. Devo isso à ioga e à minha professora Heloisa Mesquita, que longe de ser um amontoado de ossos e músculos, também aprecia uma boa comida, um belo vinho e muitos outros prazeres.”

Sylvia Loeb é psicanalista, editora convidada do Fifties e cada dia mais apaixonada pela ioga

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10 pensamentos em ““Como a ioga mudou minha vida”

  1. Sylvia, obrigada por compartilhar sua experiência.
    Encontrei na internet a sua professora Heloisa Mesquita em SP… Voce pode conseguir com ela a indicação de um bom profissional aqui na Barra, no Rio de Janeiro?
    Obrigada, Ana Duarte.

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